Políticas públicas, inovação e futuro do trabalho no XVI Encontro Crea-SP Jovem
6 de dezembro de 2025, às 18h35 - Tempo de leitura aproximado: 6 minutos

O XVI Encontro do Crea-SP Jovem realizado na Sede Angélica, neste sábado (06/12), reuniu à tarde especialistas do setor público, do mercado e da inovação tecnológica para discutir como a Engenharia pode transformar políticas públicas, antecipar o futuro do trabalho e impulsionar soluções disruptivas. Além disso, foram discutidos temas como liderança e empreendedorismo. Sempre com o olhar voltado para os novos e futuros engenheiros.
No painel “A transformação das políticas públicas através das Engenharias”, três executivos do setor público compartilharam experiências e defenderam o papel estratégico das engenharias na gestão das cidades. Abrindo o debate, o mediador, engenheiro Vinicius Marchese, presidente do Confea, reforçou a necessidade da entrada de técnicos na vida pública. “A participação da Engenharia na atuação política é importante. A vida acontece nos municípios, onde as decisões locais impactam diretamente no cotidiano da população e precisamos participar. Projetos e pessoas são essenciais para o desenvolvimento das cidades”, disse.
O engenheiro Thiago Silvestre Vasconcelos, secretário de Obras e Serviços Urbanos de Barretos, apresentou os desafios enfrentados na gestão municipal e o papel da Engenharia na continuidade e criação de projetos públicos. Ele explicou que sua secretaria atua em obras, reformas e melhorias urbanas e citou avanços importantes, como solucionar a crise hídrica na localidade ao alcançar 80% de abastecimento por água superficial. “Temos problemas históricos locais, como problemas decorrentes de enchentes com a falta de drenagem. Fortalecer o diálogo com associações locais e instituições de ensino é crucial para aprimorar projetos e buscar novos recursos estaduais e federais”, afirmou.
A diretora de Meio Ambiente e Agricultura de Iracemápolis, engenheira Simone Zambuzi, trouxe a perspectiva da urgência de profissionais técnicos no setor público e falou da importância do uso de novas tecnologias. “Temos um ferramental importante, como telemetria e sistemas de monitoramento, por exemplo, para aumentar a precisão dos serviços públicos”, argumentou.
Já o secretário de Habitação Popular de Mogi Mirim, engenheiro Evandro Kaam, refletiu sobre o papel social da Engenharia na melhoria das condições de vida da população. Estudioso de cidades inteligentes e urbanismo social, ele destacou que a “habitação é mais que ter um teto, é buscar a melhoria na vida dos cidadãos”, observou. Ele também alertou para a baixa adesão de jovens à carreira técnico-política, defendendo o engajamento destes em conselhos e entidades locais.
O futuro do trabalho e da Engenharia
O especialista em carreiras Rodrigo Dib, LinkedIn Top Voice de RH e um dos mais influentes no tema do País, apresentou na palestra – baseada em seu livro O mundo é seu, mas calma lá! – uma visão clara sobre o futuro do trabalho, destacando que 39% das habilidades exigidas hoje serão diferentes em 2030 e que 14% dos empregos que existirão em quatro anos ainda nem foram criados. Reflexos diretos da aceleração tecnológica e em especial da Inteligência Artificial (IA).
Ele ressaltou que a Engenharia vive um momento de oportunidades e desafios, marcado pela queda de 25% nas matrículas entre 2015 e 2023. “A moeda do futuro é a capacidade do engenheiro de resolver problemas, combinando análise, colaboração, comunicação e influência social”, ensinou.
No painel de inovação, Fábio Massuia, head de Estruturas e Materiais da Eve Urban Air Mobility, subsidiária da Empresa Brasileira de Aeronáutica (Embraer), apresentou a revolução que a empresa vem conduzindo na mobilidade aérea urbana por meio de aeronaves elétricas de decolagem vertical (eVTOL). Com experiência no desenvolvimento de diversas aeronaves ao longo da carreira, ele explicou que o propósito da Eve é reimaginar as conexões urbanas porque mobilidade é dar mais tempo para a vida das pessoas.

Ao final da tarde, no auditório, o engenheiro Kelvin Lucena apresentou a plataforma de ensino Orieng, que pretende resgatar o orgulho de ser engenheiro por meio de conteúdos dinâmicos, com uso de músicas e cursos de especialização em grandes obras e soluções técnicas. Nas redes sociais eles têm mais de 1,2 milhão de seguidores no Instagram e 400 mil no TikTok.
Articulações de saberes: a Engenharia e seu potencial de cidadania
Na parte térrea da Sede Angélica, onde está localizado o CreaLab Coworking, estava o Espaço Conexões do evento. Tamanha era a energia dos jovens – em uma proposta de palco mais intimista -, que a sala em formato retangular, decorada com almofadas coloridas, arquibancada ergonômica e aquela atmosfera de startups, se transformou organicamente em uma aceleradora de carreiras. Ali os estudantes faziam networking e falavam abertamente sobre os insights dos painéis, ativos na interação com o ambiente.
Coube ao engenheiro Vinicius Marchese, presidente do Confea, abrir as sessões em um painel intitulado “Liderança jovem: a peça-chave para a renovação”, ao lado de representantes dos municípios paulistas: Guilherme Campos (PSD), vereador de Mogi Guaçu; Vinícius Scarso (MDB), vereador de Capivari; engenheiro Fontaine Tazinazzo (PSD), vereador de Lucélia; e por fim, João Clemente (Progressistas), vereador de Araraquara.

Os parlamentares convocaram os estudantes – que lotaram todos os lugares da plateia – a participar mais ativamente da vida pública. “Estamos aqui para inspirar vocês. E não se esqueçam disso, vocês receberão o Brasil no qual, nós, neste tempo presente, trabalhamos duro para melhorar”, completou Marchese.
O painel abordou exemplos práticos onde a engenharia foi protagonista na resolução de problemas dos municípios – seja na execução plena das obras e reformas necessárias em cada contexto, seja pela articulação de saberes propiciada pela atuação dos engenheiros, unindo: empresas, moradores, profissionais e entidades do setor público.
A programação também aprofundou sobre o universo do empreendedorismo, com a palestra “Comportamento empreendedor: construindo as bases do sucesso” da mestre em comunicação Vera Ruthofer, consultora de negócio do Sebrae-SP (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas). A especialista conta com quase 40 anos de gestão nas áreas de administração e marketing em empresas como Valor Econômico e BASF. Na sequência, os jovens entraram em contato com o tema “Profissional em evolução: soft skills, técnica e protagonismo”, em palestra do engenheiro agrônomo e especialista em desenvolvimento de mercado, Andrei Zapani.
O dia de debates rendeu mesmo para quem percorreu longas distâncias para chegar ao encontro. Após viajar quase seis horas pelos 469 km de estradas do trajeto de Espírito Santo do Pinhal até a capital paulista, Carlos Alberto Barbosa Júnior, estudante de engenharia da computação da UniPinhal, estava animado com a vinda ao evento e otimista com as suas perspectivas profissionais. “Hoje, estou no terceiro ano de estudos, o penúltimo, e pretendo em breve trabalhar no desenvolvimento de softwares, de preferência, na indústria de games”, afirmou.
Atento ao mercado pulsante de inovação, Carlos Alberto surpreende pela maturidade com a qual responde sobre a sua área favorita da gama de possibilidades das Engenharias. “Quero atuar em projetos de cibersegurança porque entendo que a sociedade precisará desse tipo de engenheiros que saibam proteger sistemas e cuidar do bom funcionamento de serviços fundamentais”, finalizou.



