Planejamento urbano e a emergência climática
23 de fevereiro de 2022, às 11h58 - Tempo de leitura aproximado: 3 minutos
Em meados da década de 1990, telefones celulares começavam a fazer parte do cotidiano dos brasileiros quando a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento dava início ao debate sobre temas globais relacionados às mudanças climáticas. Anos depois, com a evolução dos celulares e a popularização das redes sociais, cenas do cotidiano passaram a ser compartilhadas, em tempo real, ampliando a visibilidade inclusive dos impactos das mudanças climáticas em todo o mundo.
Impossível fechar os olhos diante de fotos e vídeos, que chegam pelas telas da TV e dos nossos smartphones, de deslizamentos de terra, chuvas intensas e tempestades de areia, alguns fenômenos que causam transtornos e deixam um rastro de destruição pelo caminho. São cenas que atingem o país e o mundo com mais frequência do que gostaríamos e acendem o alerta para a inexistência de um planejamento urbano que nos proteja dos impactos das mudanças climáticas.
Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), 70% da população mundial deve viver em áreas urbanas até 2050. Absorver esse crescimento populacional atrelado a iniciativas socioambientais é o grande desafio para o desenvolvimento de cidades mais inteligentes e sustentáveis.
O conceito de cidades inteligentes surge como uma solução para mitigar os efeitos das alterações climáticas e organizar melhor as cidades para evitar novas catástrofes. “Esse é o desafio do gestor público, que precisa enxergar as particularidades da sua cidade e associá-las às novas tendências”, afirma o Eng. Civ. Joni Matos, diretor administrativo do Crea-SP. “A elaboração de um plano diretor sem a participação de um especialista em cidades inteligentes pode estabelecer diretrizes descompassadas”, complementa.
De acordo com a ONU, o desafio das cidades no século 21 está voltado à crise climática. “Temos acompanhado o aumento na frequência dos relatos desses fenômenos, cada vez mais intensos”, cita o meteorologista e conselheiro do Crea-SP, Ricardo Hallack.
Projeções do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) indicam um aumento entre 1,8ºC e 4ºC na temperatura média global nos próximos 100 anos e um aumento do nível médio do mar entre 0,18 m e 0,59 m, o que pode afetar todo o ecossistema das cidades.
“A população fica à mercê dos fenômenos meteorológicos porque não tem como se precaver por falta de planejamento urbano. Um dos graves problemas do Brasil é moradia em regiões de risco. Porém, faltam estudos e iniciativas para evitar que as pessoas povoem esses locais”, reforça Hallack.
As regiões de risco já foram mapeadas pelo Centro Nacional de Monitoramento e Alerta de Desastres Nacionais (Cemaden), mas Hallack observa que falta direcionamento dos recursos públicos federais para essas áreas. “Não podemos ignorar o fato de que, se ficarmos parados, sem tomar nenhuma providência para estancar problemas óbvios, comprometeremos o futuro das outras gerações.”
Além da necessidade de direcionar os investimentos, o meteorologista ressalta a relação entre os fenômenos registrados em todo o Brasil, caso das tempestades de poeira em São Paulo e Mato Grosso, que até então não eram observadas. “Com as grandes queimadas na região da Amazônia, por exemplo, o arco de desmatamento avança ano a ano e é visível pelos satélites. Falar que desmatar a Amazônia não terá efeito nenhum nos fenômenos meteorológicos no resto do Brasil é uma leviandade científica”, conclui o meteorologista.
Atuando de forma efetiva para mudar este cenário, o Crea-SP desenvolve diversos projetos. Um exemplo dessas iniciativas é o Colégios de Inspetores, evento que, em sua última edição, promoveu 10 encontros em diferentes regiões do estado de São Paulo, com o objetivo de fortalecer o debate sobre cidades inteligentes e auxiliar os municípios na produção de diagnósticos sobre os potenciais e desafios de cada região.
Durante os encontros foram elaboradas mais de 160 propostas pelos profissionais da área tecnológica. Com isso, os governos municipais e estadual terão à sua disposição diagnósticos com sugestões de melhorias baseados na realidade de cada cidade paulista para que possam implementar planejamentos eficazes, que vão ao encontro das especificidades locais.
Produzido pela CDI Comunicação
Editado pela Superintendência de Comunicação do Crea-SP