O papel da Engenharia pós-eventos climáticos
11 de agosto de 2025, às 13h39 - Tempo de leitura aproximado: 3 minutos
A importância dos engenheiros na linha de frente dos esforços de restauração e resiliência diante dos crescentes impactos dos fenômenos climáticos foi a tônica do painel de abertura “Desafios da reconstrução: o papel da engenharia pós-eventos climáticos”, realizado durante o Colégio de Inspetores 2025 e o 12º Congresso Estadual de Profissionais do Crea-SP, evento realizado no Mercado Pago Hall, no Mercado Livre Arena Pacaembu, nos dias 8 e 9 de agosto.
Mediado pelo engenheiro Vinicius Marchese, presidente do Confea, o debate teve como objetivo provocar uma reflexão sobre como a capacidade técnica e o compromisso social da Engenharia são cruciais para restaurar estruturas, recuperar comunidades e construir soluções mais resilientes. Para isso, foram usados exemplos concretos, apresentados por duas convidadas que relataram suas experiências e as boas práticas adotadas durante eventos muito desafiadores: Maria Teresa Diniz, Diretora de Projetos e Programas da CDHU, à frente das iniciativas adotadas durante e depois dos deslizamentos de terra em São Sebastião, litoral norte de São Paulo, em 2023, que mataram 64 pessoas e desalojaram quase 600, e Ângela de Oliveira, secretária-adjunta da Secretaria da Reconstrução Gaúcha do Estado do Rio Grande do Sul, responsável pelas ações de recuperação de 95% dos municípios gaúchos atingidos pelas enchentes em maio de 2024, no que foi classificado como a pior tragédia do Estado até hoje, com 184 vítimas fatais e 2,4 milhões de pessoas afetadas.
“Vivemos uma realidade de eventos climáticos da qual não podemos nos furtar”, disse Ângela, ressaltando que este novo cenário impõe novos parâmetros técnicos na Engenharia. As duas profissionais compartilharam as iniciativas e soluções – de curto, médio e longo prazos – adotadas diante das circunstâncias enfrentadas e o que pode ser extraído como aprendizado. Nesse ponto, os participantes do painel foram unânimes em apontar alguns caminhos, como a necessidade de buscar novas propostas para problemas antigos, a valorização dos engenheiros como profissionais fundamentais para a evolução das cidades e a transferência de conhecimento. “Precisamos apostar na diversidade de projetos em vez de continuar fazendo sempre a mesma coisa, independentemente de onde o problema ou a necessidade esteja”, completou.
A especialista ainda trouxe um panorama financeiro – ponto fundamental a ser considerado para a evolução das cidades. “Os custos dos eventos climáticos extremos são muito grandes. Estudos recentes da Organização das Nações Unidas (ONU) demonstram que para cada US$ 1 investido em infraestrutura feita de modo resiliente, até US$ 9 são poupados na reconstrução. “Quando falamos de sistemas adaptativos, estamos falando inclusive na viabilidade econômico-financeira que estamos atraindo para as nossas cidades”, afirmou Ângela.
Para Maria Tereza, há outro ponto importante a ser considerado: o trabalho integrado entre profissionais de diferentes áreas, de forma coordenada. “O engenheiro do futuro é aquele que sabe atuar de forma colaborativa”, disse. Marchese também relembrou a atuação conjunta do Crea-SP com a Secretaria de Desenvolvimento Urbano e Habitação (SDUH) durante a tragédia do litoral norte. Além do apoio técnico no local, foi adotada a emissão de Anotações de Responsabilidade Técnica (ARTs) sem custo para os profissionais. As medidas emergenciais buscaram reforçar o trabalho da área tecnológica durante o desastre.
No painel, Marchese ilustrou um exemplo de ação que contribui diretamente para uma interlocução maior entre os profissionais e a gestão pública, visando atender as solicitações de cada região. “O Marcelo Branco, secretário de Desenvolvimento Urbano e Habitação de São Paulo, tem uma iniciativa muito interessante. É um caderno com vários tipos de projetos e seus respectivos modelos, como ofício e planilhas adaptados para cada caso, tudo pronto. É só adequar à necessidade da sua cidade”, apontou. Maria Teresa complementou: “É como se fosse um cardápio, com templates para diversos tipos de intervenções, como ciclovia e jardins de chuva”.
A medida tem como objetivo desburocratizar o processo, melhorar a qualidade das informações que acompanham as solicitações e, consequentemente, acelerar a aprovação e a implementação de melhorias, principalmente em casos de desastres naturais.
Ao fechar o debate, o presidente do Confea chamou atenção, ainda, para a necessidade de um olhar mais amplo do público presente. “O profissional que não enxergar sua multifunção e ficar preso ao seu espectro de graduação está muito longe do que o País e o Estado precisam. Nosso objetivo aqui é levar esse aprendizado a vocês para que seja perpetuado em suas cidades”, concluiu.
Produzido pela CDI Comunicação