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Acesso em 02/09/2025 às 22h21.

Educação e competências: a carreira do futuro em transformação

Especialistas apontam as habilidades exigidas pelo mercado e a importância da adaptação

29 de agosto de 2025, às 13h00 - Tempo de leitura aproximado: 5 minutos

O avanço exponencial da tecnologia exige uma nova mentalidade para profissionais e estudantes. É com essa premissa que o projeto Crea-SP Capacita — iniciativa do Conselho que oferece atualização contínua — promoveu a palestra “Mudança no ensino, uma necessidade do Brasil” durante o Colégio de Inspetores 2025 e do 12º Congresso Estadual de Profissionais (CEP) do Crea-SP, realizados neste mês de agosto, no Mercado Pago Hall, no Mercado Livre Arena Pacaembu, em São Paulo. 

O tema foi conduzido por Egon Daxbacher, pesquisador, consultor, professor e coordenador Acadêmico do Instituto de Tecnologia e Liderança (Inteli). Daxbacher defendeu o conceito de long life learning, ou aprendizado contínuo, como algo fundamental para a carreira moderna, que “vai, volta e dá muito giros”. Como exemplo, mencionou o início de seu doutorado aos 51 anos, rompendo com o modelo tradicional e linear de carreira. 

O pesquisador posicionou a transformação tecnológica, que saiu de uma área de apoio para se tornar protagonista, como um ponto central para a educação atualmente. “A verdadeira revolução veio após 2015, impulsionada pela pandemia, que consolidou a tecnologia como um agente de extrema relevância no mercado. Para exemplificar a velocidade dessa transformação, enquanto o avião levou 68 anos para atingir 50 milhões de usuários, a IA Generativa alcançou este marco em apenas cinco semanas”, disse. Essa velocidade impacta diretamente o mercado de trabalho. Um estudo do Fórum Econômico Mundial projeta o desaparecimento de 22% dos empregos até 2030. 

Segundo Daxbacher, todo negócio, na verdade, virou um negócio de tecnologia. Ele ressaltou que essa transformação não se restringe a áreas óbvias como TI e Engenharia, mas atinge também Medicina, Direito, Agronomia, entre outras. Apesar da centralidade da tecnologia, Daxbacher enfatizou que o sucesso profissional no futuro exigirá a combinação de habilidades técnicas com competências humanas.  

Ele também provocou a plateia com uma reflexão: “A tecnologia não vai substituir os humanos. Os humanos que não utilizarem tecnologia serão substituídos por aqueles que usam”. O perigo da substituição reside nos trabalhos rotineiros e repetitivos. Daxbacher aconselhou que os profissionais se dediquem ao desenvolvimento de habilidades como pensamento analítico, pensamento crítico, criatividade, liderança e influência, que sempre serão essenciais.  

Ao final, o especialista fez um alerta sobre a qualificação profissional no Brasil. Comparando o percentual de profissionais formados nas áreas de Engenharia, Computação, Estatística e Matemática, o Brasil tem apenas 17%, enquanto países como a China e a Índia jogam um jogo bem diferente e investem pesadamente na formação de seus profissionais. Para ele, a mudança no ensino é uma necessidade urgente para que o país possa competir nesse cenário global. 

Dando continuidade à discussão, o painel  “Competências do Futuro: Oportunidades e Desafios para os Profissionais”, oferecido pelo Banco de Talentos do Crea-SP – plataforma que conecta profissionais às vagas no mercado -, aprofundou o tema. O debate, mediado por Stefania Bulhões, gerente de Gestão de Pessoas do Crea-SP, contou com a participação de Vanessa Carlim, gerente de Sucesso do Cliente da Gupy, e Lilian Quatrocchi Poppi, especialista em Seleção de Pessoas da Nissan do Brasil, que discutiram a conexão entre o domínio técnico e as habilidades comportamentais. 

Bulhões destacou que, no Brasil, o mercado de trabalho está migrando de um modelo baseado em diplomas e cargos para um centrado em habilidades, principalmente as socioemocionais. “Competências superam diplomas. A capacidade de adaptação, o pensamento crítico e a solução de problemas são critérios de progressão de carreira”, ressaltou. 

Poppi enfatizou que o desafio não é mais o que pensar, mas como pensar. Ela explicou que o desenvolvimento de novas habilidades passa pelo entendimento de como funciona a mente humana, que é baseada nos princípios de sobrevivência, economia de energia e previsibilidade. A especialista argumentou que, para estabelecer uma conexão, é preciso compreender como a mente do outro funciona. “A nossa mente funciona com base em padrões, cada um tem uma história de vida. Eu só consigo me ajustar à necessidade do outro se eu conheço como penso e qual é a minha experiência”, pontuou. 

Já Carlim, ao abordar as competências mais procuradas pelas empresas, destacou a learning agility, que consiste em “aprender, desaprender e reaprender novamente”. Ela explicou que, de acordo com o relatório The Future of Jobs 2025, publicado pelo Fórum Econômico Mundial, 39% das competências existentes serão transformadas ou ficarão obsoletas até 2030 e, por isso, a adaptabilidade é fundamental. Também reforçou que o profissional do futuro precisará entender sobre temas como prompt (texto criado com o objetivo de descrever a tarefa que a inteligência artificial deverá executar) para saber se comunicar com a IA, que assumirá as tarefas operacionais. “O que nós, seres humanos, vamos precisar fazer? Ser estratégicos ao ponto de colaborar com a IA”, afirmou Carlim. 

Para as palestrantes, o grande diferencial do ser humano, e que a inteligência artificial não tem, é a consciência e a empatia. “Tudo é IA, mas a gente não tem ainda a consciência artificial. A consciência é do ser humano”, disse Poppi, reforçando a importância da capacidade de avaliar as respostas da IA e de adaptá-las para as relações humanas.  

No encerramento, as especialistas abordaram o papel da liderança e da empresa na preparação dos profissionais para o futuro. Poppi ressaltou que as empresas precisam “desenvolver possibilidades para que as pessoas possam saber os caminhos para melhorar todo esse processo”, enfatizando que a valorização das relações humanas não poderá ser substituída por robôs. Já Carlim incentivou as lideranças a valorizarem os encontros presenciais, praticarem a escuta ativa e manterem a mente aberta para a nova geração, aprendendo com seus modelos de trabalho.  

Produzido pela CDI Comunicação