Marca do Crea-SP para impressão
Disponível em <https://www.creasp.org.br/noticias/solucoes-inteligentes-frente-as-mudancas-climaticas-tecnologia-e-inovacao-impulsionam-a-agricultura-sustentavel/>.
Acesso em 04/11/2025 às 08h54.

Soluções inteligentes frente às mudanças climáticas: tecnologia e inovação impulsionam a agricultura sustentável

Especialistas destacaram como a agricultura digital, a IA e as soluções baseadas na natureza estão redefinindo o futuro da produção e da gestão ambiental no Brasil

10 de outubro de 2025, às 13h33 - Tempo de leitura aproximado: 6 minutos

O painel “Soluções Inteligentes frente às Mudanças Climáticas”, durante a 80ª Semana Oficial da Engenharia e da Agronomia (SOEA), destacou como o uso de tecnologias digitais e ferramentas de análise de dados está transformando o campo brasileiro e abrindo novos caminhos para o desenvolvimento sustentável. A moderação foi feita pelo Eng. Agrim. Joseval Carqueija, presidente do Crea-BA.

Especialistas discutiram como a agricultura de precisão, o uso de sensores inteligentes, o georreferenciamento e a internet das coisas (IoT) têm se tornado aliados estratégicos na adaptação às mudanças climáticas, otimizando o uso de recursos naturais e promovendo maior eficiência produtiva. O encontro reforçou que a inovação tecnológica é um dos pilares para o futuro da Engenharia Agronômica e para a consolidação de um modelo de agricultura mais inteligente, resiliente e sustentável.

 

A era da agricultura guiada por inteligência

Abrindo o painel, o Eng. Agric. Domingos Sárvio Magalhães Valente, docente da Universidade Federal de Viçosa (UFV), destacou que a agricultura moderna deve ser guiada por dados e inteligência aplicada. “A ideia é entender os problemas que queremos resolver. Por exemplo, o uso de fertilizantes e as prescrições de aplicação”, explicou. Ele ressaltou que o solo apresenta variações de fertilidade e que a aplicação uniforme de insumos pode gerar desperdício e impactos ambientais. “Quando aplicamos pela média, o nutriente é distribuído de forma total, e há deslocamento de fertilizantes. Por isso, é necessário usar inteligência para fazer a aplicação em taxas variáveis, evitando excessos e otimizando o uso dos recursos.”

Segundo Valente, o processo envolve coleta e análise contínua de dados, gerando recomendações personalizadas e dinâmicas. “A recomendação não é fixa. Ela é ajustada em tempo real, de acordo com a produção e a qualidade observadas no campo.” O engenheiro destacou ainda que a digitalização da agricultura já é uma realidade, com a integração de sensores, drones e sistemas de monitoramento. “Hoje, temos a internet das coisas aplicada no boi, no solo, na planta — tudo em tempo real. Os sensores medem índices do solo, como matéria orgânica e luminosidade, permitindo identificar variações e agir com precisão.”

O uso dessas tecnologias, reforçou Valente, aumenta a eficiência e reduz custos, além de contribuir para o manejo sustentável e o combate a pragas e doenças. “Com a inteligência embarcada, conseguimos compreender melhor as necessidades do produtor e classificar problemas com agilidade, definindo tratamentos adequados e aumentando a eficiência do campo”, concluiu.

 

Da agricultura digital à agricultura inteligente

O Geog. Abimael Cereda Junior, sócio-proprietário da Geografia das Coisas, destacou que a agricultura de precisão precisa ser entendida como parte de um sistema integrado entre campo e cidade. “Esse fluxo é interdependente. Não há agricultura forte sem cidade estruturada, nem cidade sustentável sem campo produtivo”, afirmou. Segundo ele, a verdadeira precisão não está apenas em drones ou sensores, mas na qualidade dos dados e na formação das pessoas.

Cereda defendeu que o avanço do setor depende do uso estratégico das informações. “A inteligência artificial não é uma urgência, é uma consequência do negócio. Precisamos transformar dados em inteligência prática”, explicou. Para o especialista, o conceito de inteligência geográfica é o caminho para evoluir da agricultura digital para a agricultura inteligente — uma que respeite as particularidades de cada território e use a tecnologia como meio para melhorar a vida do produtor.

 

IA e geoprocessamento na gestão ambiental

O Eng. Amb. Gustavo Augusto Mendonça Asciutti, diretor da GAMAGeo, destacou que o uso da inteligência artificial no geoprocessamento tem revolucionado a forma como engenheiros e gestores interpretam dados ambientais. “Na agricultura, trabalhamos em um ambiente mais controlado, mas no meio ambiente as correlações são múltiplas e complexas”, explicou. Segundo ele, o avanço de tecnologias como satélites, drones e sensores IoT permite reunir grandes volumes de informações sobre desmatamento, escassez hídrica e mudanças climáticas — desafios que exigem análises rápidas, confiáveis e em larga escala.

Entre as aplicações práticas, Asciutti citou o monitoramento da cobertura do solo, a previsão de turbidez em rios, a detecção de erosões e o acompanhamento de riscos ambientais, como chuvas e deslizamentos. A IA também tem sido usada para identificar padrões de biodiversidade e otimizar rotas de fiscalização. “O grande ganho é a precisão e a redução de erros humanos”, afirmou. Para o engenheiro, o uso inteligente desses dados oferece suporte direto à tomada de decisão em gestão ambiental, ampliando a capacidade de resposta frente às mudanças climáticas e fortalecendo a sustentabilidade dos territórios.

 

Água, urbanização e soluções baseadas na natureza

A Eng. Amb. Juliana Alencar, que também é pesquisadora e consultora, ressaltou que o avanço da urbanização tem alterado profundamente a dinâmica natural das bacias hidrográficas. “À medida que urbanizamos uma bacia, mudamos o caminho da água. O que antes era um percurso diversificado pela paisagem passa a fluir sobre superfícies impermeáveis até ser captado por galerias.” Segundo ela, esse processo encurta o ciclo da água e aumenta o tempo de concentração das vazões, gerando enchentes e sobrecarga nos sistemas urbanos. Além disso, há elevação das cargas poluentes e redução da qualidade da água nos rios.

Juliana defendeu a adoção de soluções baseadas na natureza e sistemas sustentáveis — como cidades-esponja, drenagem sustentável e infraestrutura verde e azul — para restaurar o equilíbrio hidrológico nas áreas urbanas. “Historicamente, nossas cidades foram projetadas para afastar a água o mais rápido possível, em uma lógica de escoamento. Agora, precisamos falar de manejo sustentável, com estruturas de retenção, infiltração e tratamento, que conciliem desenvolvimento urbano e preservação ambiental”, destacou.

 

Cidades-esponja: o futuro da drenagem sustentável

Encerrando o painel, Geog. Thomas Ribeiro de Aquino Ficarelli, presidente da Aprogeo-SP e sócio da Teraviz Consultoria, destacou que o conceito de “cidades-esponja” surge como resposta aos desafios do saneamento e da drenagem urbana no Brasil. Segundo ele, a urbanização intensa fez com que os campos — que antes atuavam como grandes áreas de absorção natural — perdessem a função de reter e infiltrar a água da chuva. “Com a migração das populações para as cidades, o solo deixou de ser permeável, e a água passou a escoar rapidamente, aumentando os riscos de enchentes e sobrecarga das redes pluviais”, explicou.

Ficarelli apresentou um roteiro de ações para transformar as cidades brasileiras em ambientes mais resilientes e sustentáveis, começando pelo diagnóstico territorial urbano, que envolve análise multicritério e definição de áreas prioritárias. Em seguida, defendeu o déficit e superávit hídrico por bacia, o planejamento de infraestruturas verde-azul — com retenção, reuso e drenagem natural das águas — e a manutenção de longo prazo dessas soluções. “É possível termos cidades-esponja no Brasil, desde que haja planejamento, responsabilidade compartilhada e compromisso com o manejo sustentável das águas”, concluiu.

 

Produzido pela CDI Comunicação

 

 

Veja a cobertura completa do Crea-SP da SOEA