ABANDONAR O TERÇADO E A ENXADA
9 de agosto de 2017, às 13h39 - Tempo de leitura aproximado: 6 minutos
O Engenheiro Agrônomo Alfredo Kingo Oyama Homma (foto acima), amazonense de 70 anos, pesquisador da Embrapa Amazônia Oriental, abriu o ciclo de palestras na 74ª SOEA, que acontece em Belém do Pará, falando de um tema – Agropecuária no Brasil – que, em princípio, não deveria causar qualquer tipo de polaridade. Afinal, em termos gerais, números divulgados massivamente provam que o setor vai muito bem, obrigado. Mas, ao pontuar sua apresentação no campo da “Agricultura na Amazônia: Conflitos e Oportunidades”, o agrônomo com Mestrado e Doutorado em Economia Agrícola deixou claro que, na região onde atua, os conflitos não decrescem na mesma proporção das oportunidades perdidas. Segundo o palestrante, “a Amazônia precisa abandonar o terçado e a enxada, para estruturar-se em torno do que a biodiversidade pode oferecer de melhor, tanto economicamente como em matéria de sustentabilidade”.
Antes de adentrar os aspectos técnicos de sua palestra, Homma destacou a sensibilidade do Confea em promover na área da Amazônia Legal esse tipo de discussão. “O Presidente José Tadeu falou ontem – lembrou o engenheiro agrônomo – sobre a responsabilidade dos profissionais da área tecnológica em relação a assuntos tratados como emergência no Brasil e no mundo, como é o caso da água, mas o Sistema Confea/Crea pode influir muito na solução de outros problemas nacionais, com os quais, por exemplo, nos deparamos na Amazônia”.
Traçando uma linha do tempo da produção agrícola na região, Homma lembrou que “o Pará chegou a ser responsável por 90% da produção nacional de cacau, deixando como legado histórico a construção das nossas igrejas do século XVIII. Mas com a chegada dos baianos no setor, a produção paraense caiu vertiginosamente”. O palestrante destacou que o mesmo aconteceu após os ciclos da borracha (época em que nasceu o Teatro Amazonas), da pimenta-do-reino e da juta com os japoneses. “A Amazônia cansou de perder oportunidades”.
No auge da filosofia extrativista pregada pelo ambientalista Chico Mendes, por volta de 1988, defendia-se a prática na Amazônia como “grande alternativa de produção econômica”. No entanto, Homma sempre se posicionou contra, em artigos produzidos para meios de comunicação especializados e até de massa, como a revista Veja. “O extrativismo só é bom quando a demanda é pequena” – afirmou o palestrante.
O pesquisador da Embrapa também destacou outras áreas de produção que merecem atenção especial das autoridades. “Temos enorme potencial nas produções mineral e energética. Um terço da produção de soja no país sai da Amazônia. Somos fortes na produção de dendê, abacaxi e pimenta e temos a maior reserva de água doce do mundo. Se o clima no Brasil depende dos cuidados com a Floresta Amazônica, cujas deficiências já são sentidas até nos estados do Sul e do Sudeste, o Confea e os Creas da região precisam discutir mais profundamente esses problemas, para apresentar soluções cabíveis em cada Estado, conforme as características de cada um” – ressaltou Homma.
A Amazônia tem suas prioridades
Segundo Homma, quando fontes oficiais divulgam que até 2030 o Brasil terá dado fim ao desmatamento, a ponderação que deve prevalecer é de que “a responsabilidade pelo reflorestamento não deve recair totalmente na Amazônia. Nós temos outras prioridades – por exemplo, associar o tecnicismo à biodiversidade”. “Ao mesmo tempo em que temos peixes que poderiam substituir a produção de carne, nossa produção de farinha ainda acontece em moldes indígenas” – disse Homma. Segundo o pesquisador, “os cuidados ambientais nas beiras dos rios pelo Brasil afora também deviam ser priorizados”.
O palestrante concorda com o processo de transferência tecnológica desenvolvido por instituições de renome, como o Instituto Agronômico de Campinas e a Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, ambas de São Paulo, além da Universidade de Viçosa, em Minas Gerais, e da Embrapa nacional, com ações adequadas à região amazônica. “Mas – lembra Homma – não podemos deixar de lado a formação acadêmica de interesse na região, justamente onde o Confea pode atuar”. O palestrante se refere à carência tecnológica nas áreas da agricultura e agropecuária. “Nós somos bons em grandes obras de infraestrutura – Tucuruí, a Zona Franca de Manaus e outros empreendimentos de porte demonstram isso –, mas não olhamos com expertise para a recuperação de áreas degradadas ou para o implemento tecnológico da biodiversidade e políticas de mercado” – declarou. Tais políticas, segundo Homma, não precisam ser agressivas. O pesquisador da Embrapa cita o Pará como o maior produtor de cacau do país e aponta o trabalho dos pequenos produtores como boa alternativa econômica. “Precisamos tecnificar os meios de produção de 600 mil pequenos agricultores” – sugere Homma.
Outros itens de produção que podem ser incrementados, como aponta o pesquisador, são o açaí, o guaraná, o pau rosa e a castanha-do-pará. “Se os princípios ativos dos centenários produtos à base de ervas e raízes, que vendemos em pequena escala nos centros amazônicos, fossem otimizados na forma de medicamentos injetáveis e pílulas – enfatizou Homma –, nós nos livraríamos do chamado mercado da angústia, sem ambições mercadológicas”.
“Se no passado tivemos as revoluções que vieram com a Petrobras, a Embraer e a Embrapa, por exemplo – finalizou o palestrante – precisamos de uma nova revolução que alie estrutura à biodiversidade”. “O homem não precisa voltar para a floresta. Basta recuperar o que foi destruído à sua volta”.
Produzido pelo Departamento de Comunicação do Crea-SP
Reportagem e fotos: Jorn. Guilherme Monteiro – DCO/SUPCEV
Colaboração: Jane Tanan – Estagiária de Jornalismo